Entre outros assuntos, falo da escalada ao Pico Cão Grande e das minhas aventuras em canoas – Visam defender a teoria de que antigos povos africanos, podiam ter sido os primeiros povoadores das Ilhas do Golfo da Guiné, antes dos colonizadores – Parti à meia-noite, disfarçado de pescador, ligando a ilha do Príncipe. Para me orientar, uma rudimentar bússola – A canoa era minúscula, à segunda noite adormeci: rolei na escuridão das vagas. No regresso fui distinguido com sopapos da policia salazarista, enviado para os calabouços – Cinco anos depois, numa piroga maior, fiz a ligação São Tomé-Nigéria. Partindo igualmente à noite, 13 dias depois atingia uma praia de Calabar, tendo sido detido 17 dias por suspeita de espionagem. - No mesmo ano, já com São Tomé e Príncipe independente, tentei a travessia São Tomé ao Brasil, usando os mesmos recursos. Além de pretender reforçar a minha teoria, desejava evocar a rota da escravatura e repetir a experiência de Alain Bombard. Porém, quis a ironia do destino que vivesse a difícil provação de um naufrágio de 38 longos dias, tendo aportado numa praia de Bioko (Bococo)onde fui recambiado para a famosa prisão de Black Beach
Em São Tomé – Tiziano Pisoni – O italiano do Mucumbli: - nome de aldeia turística na Ilha do Meio do Mundo – Projeto do Cooperante, Professor e Médico-Veterinário, empresário, apicultor e dirigente de ciclismo, homem dos múltiplos ofícios e missões, o mais popular rosto da cooperação internacional em São Tomé e Príncipe
Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Mucumbli é nome de uma árvore
de grande porte, a que foi atribuída a designação científica
de Lannea Welwitschii com os seus 50 metros ou
mais de altura, usada na medicina tradicional, de cuja seiva os
curandeiros nativos extraem os seus “milongos”, com propriedades curativas e
mágicas, nomeadamente para os meninos começarem a andar com o seu pé
mais cedo e se libertarem do colo ou das costas das suas mães . - Já
nos referimos a estas imagens e ao nome a que também surge associado, aquando da
nossa estadia, em São Tomé, em Novembro passado,
Oportunidade que pude desfrutar graças ao
Coronel Victor Monteiro, Diretor de Gabinete do PR que teve a amabilidade de me
levar na sua viatura a vários pontos maravilhosos da sua Ilha, alguns dos quais
vistos por mim pela primeira vez, tal foi o caso deste encantador empreendimento
turístico, onde o saudável e reconfortante convívio com a natureza, não é mero
slogan. – A curta distância da estrada marginal, mas onde o asfalto é deixado
lá atrás – Dir-se-ia que é o mesmo que partir à descoberta da
floresta virgem, em estado primitivo mas onde o homem pode sentir-se
perfeitamente integrado - Mas, agora, fique com outros pormenores de quem é
o autor desse maravilhoso projeto, que, naquela altura, não tivemos o prazer de
conhecer
TIZIANO PISONI
Tiziano Pisoni, fundador e Presidente da Federação de Ciclismo de
São Tomé e Príncipe, e também Presidente e Organizador da Volta do CACAUem bicicleta, prova rainha
do ciclismo santomense, e já com
projeção internacional, cuja VI edição, se realizou de
27 a 30 de Agosto, com a a participação de ciclistas de São Tomé e Príncipe, Portugal,
Angola e Cabo Verde - Sim, ,bastaria o sucesso da organização e promoção deste evento da Volta do Cacau para o tornar famoso e admirado. Visto já ser considerado um dos acontecimentos desportivos de maior
relevância no panorama são-tomense, tanto para o ciclismo local, como oportunidade para a divulgação do desporto em geral
Porém, o passado de cooperaçao, de Tiziano Pisoni, é bastante mais amplo, frutuoso e multifacetado - Chegou a São Tomé, em 1992, como cooperante de ONG ALISEI – Uma associação para a Cooperação Internacional, com sede em
Milão - Itália, mas com escritórios descentralizados em muitos países do
continente Africano, já presente em
São Tomé desde 1986.
Sem dúvida, trata-se de um dos mais antigos e prestigiados rostos da
Cooperação, em São Tomé e Príncipe
– Exemplo de dedicação, de
empreendedorismo e de paixão por esta terra e as suas gentes - Um
caso singular a nível dos cooperantes internacionais:
de
experiencia multifacetada e enriquecedora, tanto pessoal como profissional,
que, segundo confessa, surge um pouco por acaso.
Depois de ter lecionado, como professor de
química, ciências naturais e matemática, durante seis anos em várias escolas, e
concluído os estudos universitários, surge
o natural apelo e
curiosidade por África, que o leva a envolver-se, voltária e apaixonadamente,
em projetos de cooperação italiana, “numa ilha no meio do mundo” na qual aporta –
diz, por mero acaso
Nos primeiros dois anos, está na base da fundação da Escola Agrícola e Pecuária, onde leciona
nas disciplinas veterinárias. E, depois
disso, também na reintrodução da espécie equina: cavalos e burros, tendo criado uma escola de equitação para alunos.
Atualmente, trabalha no Ministério do
Ambiente, prestando assistência Técnica ao Diretor Geral do Ambiente, para
implementação do Projeto de
Adaptação às Alterações Climáticas. Pois reconhece que aumentou o nível
do mar; há problemas nalgumas zonas costeiras. Com as chuvas, inundações ou
secas. O clima já não é como antigamente. Houve algumas alterações que poderão
ter influência na agricultura, nas produções agrícolas
Tiziano tem
liderado muitos projetos de
desenvolvimento rural: desde o fornecimento de água, a construção de casas .E a
responsável pela coordenação do GIME
(Grupo de Intervenção e Manutenção de Estradas), dos chamados cantoneiros: -
Projeto financiado pela União Europeia (em um milhão de dólares por
ano), desde 2005 a 2014, o qual, além de possibilitar a ocupação e o salário
a cerca de 1600 homens e mulheres,
permitiu manter as atuais estradas em melhores condições, assim como a recuperação de variadíssimos trilhos e
antigos caminhos do mato, que, depois da descolonização, haviam sido
abandonados, se encontravam
intransitáveis e, desse modo, logrando
dar acesso a muitas zonas florestais e agrícolas, facultando a sua exploração e
aproveitamento.
Referem noticias,
que, na sua terra natal, província de Bergamo,
Ticiano Pisoni, e sua esposa Mariangela, são considerados os "embaixadores italianos no mundo da
cooperação na África Ocidental. Mas também a nível internacional: - Designadamente
pelo seu trabalho na Organização
Governamental Alisei-New Frontier, eles têm sido apontados como uma referência para os colaboradores em
outros países europeus. No entanto, quem, verdadeiramente, sabe avaliar esse trabalho, não ignora o
valioso contributo do casal italiano, são, especialmente os são-tomenses, que, de há muito, compreenderam o amor e
a paixão, que ambos têm dedicado à sua ilha e seus habitantes
Ticiano Pisoni, e
sua esposa Mariangela Reina, são, pois,
os protagonistas de um longo mas dedicado e frutuoso percurso a cooperar para o
progresso e bem-estar de São Tomé. Sem nunca descorarem a sua ação social, em
todos as iniciativas e projetos, em que se tem envolvido, em 2010, pensaram investir
algumas das suas economias, num empreendimento empresarial, a que deram o nome
de Mucumbli Ponta Figo, um resort
restaurante / situado a noroeste da ilha . – Mucumblì, que é também
o nome de uma grande árvore utilizada na medicina tradicional, que chega a 50
metros em altura.
A ideia inicial do
seu projeto, sob concessão do Estado, visava,
simplesmente, a recuperação de um
terreno baldio para agricultura
biológica, numa área de sete hectares, que, nos tempos coloniais, era preenchida
por plantações de cacau, bananeiras,
coqueiros e palmeiras, e , que, então, se encontravam praticamente abandonadas e destruídas:
quer devido ao corte sistemático de
árvores florestais, quer à extração de pedras e até por via de incêndios.. Para
recuperarem a exploração, confessa que já ali foram plantadas 2.000 árvores, além da criação de coelhos, galinhas, cabras, ovelhas,
burros e exploração apícula... –
O
entusiasmo pelo aproveitamento turístico, este ficou dever-se , sobretudo, ao
entusiasmo manifestado pelas pessoas amigas que visitavam o casal, a que iam também assegurando
a estadia e o alojamento – E, assim,
pouco a pouco, casa a casa, todas em
madeira, com nomes de frutos da terra e perfeitamente integradas na paisagem, localizadas onde não há vento mas
também sem necessidade de ar condicionado, surge o belíssimo empreendimento turístico de Mucumbl - Sim, a integração com o meio ambiente é perfeita, reconhece
Tiziano Pisoni,
frisando que não
há impacto negativo.Aspeto
que considera importante para se
integrar com a população – Já que, por outro lado, toda a equipe que ali
trabalha, é constituída por pessoas, que residem muito
perto, tendo algumas delas frequentado cursos de Inglês e Francês.
O
projeto, que integra também trabalhadores rurais,
tem sido um sucesso crescente, superando
todas as suas expectativas de Ticiano e Mariangela: - Os turistas chegam durante todo o ano,
especialmente a partir de Portugal, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Gana,
Angola e Gabão.Havendo
também americanos, canadenses, australianos, italianos, como não podia deixar
de ser.
Sem dúvida, trata-se,
com efeito, de uma belíssima aldeia turística, perfeitamente integrada num
espaço de atividade agrícola e florestal, de pecuária, de proteção, propiciando
o íntimo convívio com o meio ambiente, alcandorada sobre uma alta falésia, da
qual se avista uma impressionante panorâmica: - quer a que se espelha,
lisa e calma na superfície líquida (para lá do recorte verde de palmeiras e
outra vegetação tropical), ora deserta ora salpicada de pequenas canoas a remos
ou à vela, quer a que se estende ao longo do litoral, em ambos os
sentidos, ou a que se ergue pelo manto verde negro e multicolor acima, a
derramar a sua luminosidade exuberante, sim, desde a densa
cobertura dos contrafortes do maciço vegetal, até às fímbrias mais altaneiras
do famoso Pico de São Tomé, onde se descobrem as eternas neblinas, que
ora parecem confundir-se com os céus, ora, diluindo-se, nos remetem a um
autêntico éden de maravilha e de sonho, transportando-nos a um outro mundo, que
não propriamente o dos homens, o térreo, mas a visão irreal, que
extasia e deslumbra, como a mais generosa e profícua dádiva divina,
sobrenatural
O MAR TÃO PERTO, AZUL SUAVE E CONVIDATIVO..
.
Do alto da falésia, onde o mar parece ao mesmo tempo tão perto como inacessível, há, no entanto, a possibilidade de acesso direto a uma praia de areia basáltica (5 minutos de distância) frequentada por tartarugas marinhas (espécie “mão branca”), que aí vêm desovar.
Sugestões de passeios acompanhados por guias de Mucumbli
A observação de cetáceos com a ONG MARAPA, partindo da Praia de Mucumbli, também conhecida por Praia das Furnas, em excursões marítimas acompanhadas por agentes formados em técnicas de observação e de aproximação dos animais no seu meio natural
A descoberta da imponente Cascata de Angolar, atravessando os túneis da conduta de água da central hidroelétrica, desfrutando de magnífica paisagem de montanha. Visitas às Roças da Ribeira Palma, Rosema, Bindá e Ponta Furada, por caminhos que oferecem uma vista panorâmicasobre a cidade das Neves. E, paraos mais aventureiros, um passeio à volta da Ilha, ligando a zona norte à do sul da Ilha, que nãoé acessível a veículos, atravessando o interior do Parque Natural do Obó de São Tomé, por entre riachos, rios, pântanos e manganal
Outros passeios atraentes: ir ao encontro do colorido e do canto das aves, da descoberta da flora endémica, ao longo da floresta secundária ousubindo ao majestoso e sempre desafiador Pico de São Tomé.
Dizem os folhetos turísticos- e com plena justificação - sim, “mais de que um agradável espaço turístico, o Mucumbli é um verdadeiro jardim tropical, onde todas as atividades são realizadas com o envolvimento da população, contribuindo para a criação de emprego e a fixação da população no distrito de Lembá, considerado entre os distritos com o maior índice de pobreza de São Tomé e Príncipe e com menos oportunidades de trabalho. Só por esse falto é, pois, de louvar e de enaltecer.
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